Rondon e a Pacificação da Região de Letícia
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- 28 de abr.
- 3 min de leitura
Por: Maurício Melo de Meneses

A história da América do Sul no século XX é marcada por diversas disputas territoriais,
sendo a Guerra de Letícia (1932-1934) um dos episódios mais emblemáticos. Esse conflito
entre Peru e Colômbia teve como epicentro a cidade de Letícia, na região amazônica, e
contou com um papel crucial do Brasil na sua resolução. Entre os personagens-chave
dessa mediação, destaca-se o Marechal Cândido Rondon, cuja experiência em diplomacia
e defesa dos povos indígenas ajudou a estabelecer a paz na região.
A Guerra de Letícia teve início em 1932, quando um grupo de peruanos ocupou a cidade de
Letícia, então sob soberania colombiana. A região era estratégica devido ao seu acesso ao
rio Amazonas e ao comércio de borracha, o que tornava seu controle altamente disputado.
A Colômbia reagiu militarmente, e os combates resultaram em uma escalada de tensão que
ameaçava envolver outras nações sul-americanas.
Diante da gravidade da situação, a Liga das Nações foi acionada para intervir
diplomaticamente. O Brasil, sob o governo de Getúlio Vargas, foi um dos principais
mediadores, buscando evitar um conflito de maiores proporções na região.
A Escolha de Rondon como Mediador
Mesmo na reserva, Marechal Cândido Rondon foi nomeado por Getúlio Vargas para chefiar
a missão de paz na região de Letícia. A escolha de Rondon não foi por acaso: sua trajetória
como desbravador e pacificador no interior do Brasil o tornou uma referência na relação
com povos indígenas e na negociação de conflitos em territórios remotos. O Marechal
passou uma temporada de quatro anos na região, dos 69 aos 73 anos de idade, como
presidente da Comissão Mista Peru-Colômbia. Rondon possuía uma filosofia baseada no
lema "Morrer, se for preciso; matar, nunca", que refletia sua postura de respeito e
diplomacia. Sua presença na região visava não apenas garantir a paz entre Colômbia e
Peru, mas também proteger as comunidades indígenas locais, que poderiam ser afetadas
pelo conflito.
A Pacificação da Região
Com a intermediação do Brasil e da Liga das Nações, um acordo de cessar-fogo foi
estabelecido, e a região de Letícia foi colocada sob administração internacional temporária.
O trabalho de Rondon foi essencial para garantir que as negociações ocorressem de
maneira pacífica, sem novas hostilidades entre os países envolvidos.
Em 1934, o Acordo do Rio de Janeiro foi assinado, restituindo Letícia para a Colômbia e
pondo fim ao conflito. A intermediação brasileira foi amplamente reconhecida como decisiva
para a solução pacífica da disputa. A atuação de Rondon reforçou a posição do Brasil como
um país defensor da paz e da diplomacia na América do Sul.
Após a conclusão dos trabalhos em 1938, ele retornou ao Rio de Janeiro e foi recebido por
uma multidão que lotava a avenida Rio Branco. O evento contou com a presença de altas
autoridades civis e militares, diplomatas e representantes de instituições científicas. Na
ocasião, o maestro Villa-Lobos regeu um coral de centenas de vozes que entoa o hino
Herois do Brasil.
Demonstrando sua habitual modéstia ao agradecer, ele faz um apelo por justiça aos antigos
companheiros que trabalharam nas linhas telegráficas, assim como aos povos indígenas.
O Legado de Rondon na Diplomacia Internacional
A atuação de Cândido Rondon na pacificação de Letícia consolidou sua reputação como um
dos maiores pacificadores da história brasileira. Seu compromisso com o diálogo, sua visão
humanista e seu respeito pelas populações indígenas marcaram não apenas esse episódio,
mas toda sua trajetória.
O episódio de Letícia também demonstrou a capacidade do Brasil de atuar como mediador
em conflitos internacionais, reforçando sua influência política e diplomática na região. Hoje,
a memória de Rondon segue viva como exemplo de liderança baseada na paz e no respeito
às culturas locais, um legado que continua a inspirar políticas de mediação de conflitos ao
redor do mundo.
Maurício Melo de Meneses é autor do livro Rondon - O Marechal da paz - Ed. Mackenzie
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