A Telegrafia como estratégia de integração nacionalde Marechal Rondon
- socialmentestudio
- 28 de abr.
- 3 min de leitura
Por: Maurício Melo de Meneses

No final do século XIX e início do século XX, o Brasil era um país de proporções
continentais, mas com enormes dificuldades de comunicação entre suas diversas regiões.
Nesse contexto, a telegrafia surgiu como uma ferramenta crucial para a integração territorial
e política. Um dos principais nomes ligados a essa transformação foi o Marechal Cândido
Mariano da Silva Rondon, cuja atuação visionária uniu tecnologia, patriotismo e respeito às
populações indígenas.
Na virada do século, o Brasil enfrentava desafios estruturais imensos. As regiões Norte e
Centro-Oeste estavam praticamente isoladas do litoral, que concentrava as principais
cidades e centros administrativos. O transporte era precário, e as informações levavam
semanas, ou até meses, para chegar de um ponto a outro. A falta de comunicação
dificultava a presença do Estado e favorecia conflitos locais, isolamento cultural e
econômico.
Marechal Rondon, engenheiro militar e sertanista, iniciou sua trajetória no serviço telegráfico
ainda como oficial do Exército e em 1890 ingressou na Comissão Construtora de Linhas
Telegráficas, que tinha como missão estender os fios de comunicação para o interior do
país. Em 1907, assumiu a chefia da Comissão Rondon, criada para expandir a rede
telegráfica entre Cuiabá (MT) e Santo Antônio do Madeira (RO).
Seu lema, “Morrer se preciso for; matar nunca”, resumia sua postura diante das populações
indígenas que habitavam as áreas por onde os fios iriam passar. Rondon entendia que a
integração territorial não poderia ser feita à força, e sim por meio do diálogo e do respeito às
culturas nativas. Essa filosofia o tornaria uma figura ímpar na história brasileira.
A construção das linhas telegráficas
A missão era colossal. A selva amazônica e o cerrado impunham obstáculos naturais
gigantescos — rios caudalosos, doenças tropicais, animais selvagens e o total
desconhecimento do relevo. Mesmo assim, a equipe liderada por Rondon avançava
lentamente, abrindo picadas, erguendo postes e instalando fios. Os trabalhos se
estenderam por décadas, resultando em milhares de quilômetros de linhas telegráficas
ligando o Centro-Oeste ao Norte do Brasil.
Essa rede permitiu o envio de mensagens codificadas em questão de minutos — algo
revolucionário para a época. Governos locais passaram a ter contato direto com o centro de
poder no Rio de Janeiro (então capital do país), decisões administrativas se tornaram mais
ágeis, e o Exército pôde fortalecer sua presença em áreas remotas. A telegrafia cumpriu um
papel estratégico: mais do que conectar cidades, ela conectava o Estado à nação. As linhas
estabelecidas por Rondon criaram as condições para a posterior construção de estradas,
instalação de escolas, postos de saúde e bases militares. Além disso, permitiram a
realização de levantamentos topográficos e mapas que consolidaram o conhecimento
geográfico do território brasileiro.
Rondon: o engenheiro da integração
Rondon não era apenas um técnico. Era um idealista que via a ciência e a comunicação
como ferramentas de civilização. Sua missão não era apenas instalar fios de cobre no meio
da floresta — era criar pontes simbólicas entre mundos distantes, promover a unidade
nacional e garantir que o Brasil fosse um país verdadeiramente conectado.
Por isso, sua contribuição foi reconhecida com a criação do Instituto Indigenista Brasileiro
(que daria origem à FUNAI) e a incorporação de seu nome a uma das maiores honrarias da
geografia nacional: o Estado de Rondônia.
A telegrafia foi, sem dúvida, uma das maiores estratégias de integração nacional na história
do Brasil. E Marechal Rondon foi seu maior arquiteto. Com coragem, conhecimento e
profundo respeito pelas culturas indígenas, ele transformou a comunicação em instrumento
de unificação e progresso. Em tempos em que a informação é instantânea, é importante
lembrar que a base dessa realidade foi construída por fios e ideais, lançados por homens
como Rondon, no coração da floresta.
Maurício Melo de Meneses é autor do livro Rondon - O Marechal da paz - Ed. Mackenzie
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